quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Expedição em Bebedouro

Prezados leitores,

Na Expedição Bebedouro, ocorrida em 12 de março de 2011, houve apenas o arrolamento da antiga fazenda Bebedouro, como sendo a única ocorrência de edificação rural de valor histórico e importantíssimo para a preservação na localidade, onde houve o interesse em inventariar por parte do proprietário. Os registros fotográficos e o levantamento arquitetônico foram feitos pelo arquiteto Lucas Figueiredo Baisch e o preenchimento da ficha catalográfica e pesquisa histórica feitas por mim, com o auxílio do Major Inácio Alves Bomfim, proprietário, seguindo indicações da professora Ana Maria Bomfim.




A antiga fazenda Bebedouro foi construída em meados do século XIX em extenso terreno que se aproxima de uma pequena sesmaria, na qual era residência dos ancestrais de Nicolau Tolentino Vaz, descendentes de italianos, que chegaram na região e povoaram o lugar bem próximo da sede, então uma das entradas principais ao território macaubense, oriunda de caminhos que bifurcam ao Vale do Rio São Francisco para região serrana de Macaúbas. Podemos atribuir importância histórica, funcional, entre outros aspectos, a esta edificação se situarmos o contexto do final do século XIX. Segundo o major Inácio Alves, a fazenda serviu de abrigo a refugiados políticos no contexto das revoltas entre os conservadores e liberais, mas especificamente aos liberais, escreve Alan José Figueiredo em O Capitão que desafiou o Império a seguinte referência: “O 2º suplente Nicolau Tolentino Vaz, ao chegar de sua fazenda, assumiu o posto de juiz municipal”. Nicolau era então um liberal e juntamente com figuras políticas como o Cônego Firmino Soares, Manoel Lourenço Seixas e outros, compunha a conjuntura política à época. Nicolau era pacificador e a tal fazenda, assim como confirma o proprietário Inácio Bomfim, era sua segunda residência.

Quanto às atividades econômicas, no passado aos ancestrais de Nicolau Tolentino falava-se de um importante criatório de porcos, mas no geral haviam diversas formas econômicas ligadas a sustentabilidade por uma policultura de subsistência. No período em que era morada do antigo juiz Nicolau, seu uso parece ser sazonal, o que é comum.

Veremos nas descrições de Nestor Goulart Reis Filho em Quadro da Arquitetura no Brasil, que esta edificação possui um programa construtivo vernacular com implantação e tendências da arquitetura do período colonial, ou seja, uma implantação em lote profundo, a um nível do chão, telhado de duas águas com telhas coloniais, beiral em cachorrada com planta retangular de circulação sem bloqueio, guarnições em verga arqueada e com gradis de proteção, entre outros detalhes descritos na ficha catalográfica.

A fazenda passou por algumas reformas ao longo de sua história, como no telhado, reboco e pinturas, mas mesmo assim guarda parte da sua originalidade, pois está preservada e não sofreu intervenções drásticas, cumprindo com a função social de moradia. Como intervenções descaracterizadoras, pontuamos: edícula para galpão agrícola, caixa d’água, porteiras criando afastamentos laterais artificiais, aplicação de calha em alumínio e antena de TV, mas que não obstruiu sua visibilidade.

Quanto ao patrimônio móvel, chama atenção um oratório autônomo em forma de capela, em madeira e com imagens sacras em madeira policromada, no chamado quarto de açúcar champrões em madeira, com bancos, estrados, malas, etc.

Sabe-se que tanto a fazenda Bebedouro como a fazenda Juazeiro são típicas casas de sítio do sertão baiano e devido a sua unicidade na região, no passado serviam além da função residencial familiar, como importantes e interessantes pontos de apoio para a população, pouso, realização de missas, casamentos e batizados. Daí observa-se uma capela autônoma, por justamente não existir capelas de culto religioso nas redondezas, de escoamento de produtos agrícolas.

Mais detalhes do sistema construtivo, materiais e história serão incluídos em futura publicação.


- José Antônio de Sousa -
::::::::: COORDENADOR :::::::::
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Fotos: Lucas Figueiredo Baisch

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